Prescott - AZ

Turista volta a Prescott, a cidade de velho-oeste americano

O clima e os habitantes fazem da pequena cidade de Prescott um dos principais destinos para quem vive em Phoenix e para quem passa por lá.

Courthouse Plaza - Prescott, AZ
Courthouse Plaza – Prescott, AZ

Depois de viajar quase 24 horas, (São Paulo / Dallas / Los Angeles / Phoenix / Prescott), fazendo amigos a cada voo, filas de imigração, salas de embarque, cheguei ao meu destino. Cansado, mas ainda com disposição, fui recebido com uma taça de vinho tinto no rancho onde fiquei hospedado. Tenho amigos-do-peito lá.

O silêncio é ensurdecedor. Dizem os moradores locais que, de noite, os coiotes fazem barulho e incomodam. Estava torcendo para ouví-los, mas não rolou nada. A lareira no quarto me manteve confortável, mas lá fora o frio estava perto de zero graus. O clima seco faz com que este frio seja bastante tolerável por alguns minutos. Mas não se engane, pois frio é frio. Exposto ao tempo, logo a coisa ficou feia. O casaco de couro e o chapéu de lã, estilo Indiana Jones me mantiveram aquecido e enturmado. Não é que o pessoal de Prescott use chapéus, mas lá você não paga mico ao fazê-lo.

Whisky Row - Prescott - AZ
Whisky Row – Prescott – AZ

Passeio para uma manhã, a Whiskey Row é uma das ruas que circunda a praça onde foi construído o prédio do tribunal de justiça local, a “Courthouse square”. Logo na primeira vez que vi o prédio tive certeza absoluta que o filme “De Volta para o Futuro” foi inspirado em Prescott. Não apenas o relógio no topo do prédio, como também a arquitetura e o comércio em volta da praça são exatamente parecidos com o que vemos no filme.

A Whiskey Row é a rua onde os caubóis do final do século XIX iam para encher a cara, jogar poker e para encontros amorosos com as damas dos bordéis locais. O principal deles, que hoje é um hotel e um bar, foi totalmente reconstruído após um grande incêndio que queimou quase toda a cidade. A história conta que alguns clientes carregaram os móveis e o pesadíssimo bar do Palace para a rua e o salvaram das chamas. Não havia muito o que fazer para evitar o estrago.  Depois do trabalho pesado, ficaram bebendo no balcão que acabaram de salvar, assistindo a grande fogueira. O balcão original ainda está lá, servindo os atuais bebuns de plantão. Ainda houve gente vestida a caráter para tirar fotos  com os turistas. Tive até a impressão que quatro deles não estavam “fantasiados”. Estes podem ser seus trajes do dia-a-dia.

Na sexta-feira começam a chegar os turistas, vindos das cidades próximas. Muitas Harley-Davidson incrementadas com seus respectivos donos também trajados a caráter. Muito barulho de motor. Além das motos, como a cidade não exige inspeção veicular, muitos carros possantes exibem sua potência aos ouvidos de quem estiver por perto. Eventualmente, vemos carros antigos e caminhonetes big-foot.

Lojinhas e gift-shops é o que não falta. Várias lojas vendem artigos usados, colecionáveis e antiguidades. Algumas delas no estilo “loja de penhores”, que ficaram muito conhecidas na programação do Discovery Channel. Tem artigos para todos os gostos, desde lojas de arte elegante até cartazes, camisetas e bugigangas.

De noite, não há nada como chutar as portinhas bang-bang do Palace e pedir um tradicional shot de whisky no balcão do bar. Tudo isto, sem tirar o chapéu de caubói, claro. Só senti falta de um joguinho sujo de poker e uma briga de bar. Isto seria fechar com chaves de ouro. Ao invés disso, tive a oportunidade de curtir música ao vivo no bar Coyote, onde o Ben (filho do  meu amigo David) me apresentou seus amigos Mat e Cadú. É isso mesmo! Tem um brazuca vivendo em Prescott.

Na calçada da biblioteca local, pertinho da Whiskey row, desenharam a história do mundo e na vizinhança, várias casas centenárias habitadas e modernizadas permitem que a gente imagine cavalos e carroças transitando em ruas hoje pavimentadas.

Prescott tem ainda mais atrações. Para quem gosta de trilhas, dá para escolher entre montanha ou deserto, seja a pé, a cavalo, quadriciclo ou jipe. Como Prescott foi capital do Arizona por duas vezes, há a mansão do Governador, que foi transformada em um museu. Catálogos de todas (ou quase todas) as atrações, bem como uma agenda dos eventos da época, podem ser encontrados no Centro de Informações Turísticas que fica na Courthouse Plaza. O prédio do Centro de Informações já foi o departamento de bombeiros (no térreo) e a cadeia da cidade (primeiro andar).

Jerome, Arizona
Jerome, Arizona

Em meu último dia em Prescott, fui conhecer duas cidades vizinhas. Fomos a Jerome, uma antiga cidade construída nas bordas de uma montanha, que foi habitada por mineradores de cobre. A estrada é cheia de curvas acentuadas, mas o visual valeu a visita. Ao longe, pudemos avistar parte do Grand Canyon. De caminho, fomos a Sedona, cidadezinha famosa pelo solo de cor avermelhada e pela comunidade que cultiva a ideia do equilíbrio cósmico através de terapias com cristais. Não entramos no miolo da cidade, mas passamos por uma avenida larga que se assemelha bastante com outro filme, desta vez uma animação, “Carros”, da Pixar. O passeio todo durou cerca de três horas.

David, Beau (cavalo), Vitória e eu, cuidando dos animais antes de uma cavalgada

Mas o mais divertido foi ajudar meu amigo David Zovod em suas tarefas no rancho. Para um caipira de cidade grande, escovar os cavalos, alisar a arena de corsage (modalidade hípica) com um quadriciclo, buscar fardos de feno em um rancho vizinho, e retribuir o carinho que recebi por ele e por sua família, serão, sem dúvida alguma, minhas principais lembranças.

No final da viagem, para minha surpresa, adivinha quem estava no meu vôo? Lembra da Vanessa, que foi a Paris e se frustrou? Pois é, descobri que a moça viajaria comigo no meu último trecho aéreo. Ela passou uns dias em Nova Iorque e prometeu escrever sobre suas aventuras. Ela me adiantou que nem tudo foram flores nesta viagem, mas foi melhor que Paris.


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